terça-feira, 23 de julho de 2013

Espiritualidade?



Existe uma atitude totalmente ridícula que revela uma fragilidade nas relações sociais de alguns religiosos. Falo da espiritualização das coisas. Como é pobre a pessoa que não assume seus atos e coloca na conta de Deus, dizendo que foi revelado pelo Altíssimo para tomar determinada decisão.
É pobre de espírito, não por ser humilde de espírito, mas por desprezar o próprio espírito que o humaniza. É pobre de espírito aquele que teme levar um fora da “enamorada” por que acredita que tem que saber se é de Deus. É pobre de espírito aquele que justifica sua saída da igreja para ir a outra afirmando que o “tempo de Deus” na antiga acabou. Seria mais honesto e verdadeiro se o religioso dissesse que apenas não se identificou com o lugar e que se identifica mais com o outro.
Essas pessoas gostam de maquiagem espiritual, tem fala mansa e jeito piedoso, mas perderam sua humanidade por se travestirem de santo. O que eles chamam de espiritualidade eu chamo de artificialidade, de arranjo, de charlantalismo. Em termos bem religiosos, eles são os mentirosos. Não na mentira que costumamos rejeitar, mas na mentira que geralmente é aceita em nome da fé. São figuras que tem dificuldade em discernir as coisas e a vida. Geralmente, alguns se acham bem conhecedores da escritura, outros se acham bem amadurecidos na experiência com o divino, e ainda outros, os detentores da verdade. Quando a “verdade” não lhe cabe, diz: não gostei desta doutrina, como se conhecessem bem aquilo que creem.
O pior de tudo é que eles têm uma língua bem grande. Saem da igreja e pulam de galho em galho resmungando suas justificativas peçonhentas e azedando o coração de alguns que lhes dão ouvidos. Quando não dão certo no namoro, diz que não era de Deus e que fulana de tal era uma pecadora. Esses absurdos só revelam quem essas pessoas são.
Infelizmente as igrejas estão cheias deste tipo de pessoas. Elas estão nos holofotes da vida ordinária dos guetos eclesiais. As igrejas gostam delas por poderem demonstrar aos outros o quanto suas igrejas são “espirituais”; as igrejas gostam delas por poderem manipular suas línguas em favor de um marketing boca-a-boca; as igrejas gostam delas por saberem que elas enchem o ego da autoridade eclesiástica bem como daqueles que dão dízimo gordo.
É assim que funciona. E dessa forma a igreja de Jesus Cristo cresce. Bem que podemos perguntar: que igreja é essa? Lamento pelas pessoas por serem mais fáceis de serem enganados por elas. Se um dia o grupo de críticos aumentarem mais que o número de fiéis que aceitam tudo como algo espiritual, se verá uma igreja diminuir por causa de seu alicerce mal feito. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Dei Gratia.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A vida e a beleza


Na varanda que fica atrás de casa tenho o prazer de ver uma vista radiante todos os fins de tarde: o pôr do sol esplêndido no horizonte deste sertão cearense. Fico a contemplar a majestade deste evento e a pensar nas muitas belezas existentes. A beleza da criação, das pessoas, das artes (da música até a poesia), dos pensamentos, da revelação, etc.
Quero ver o belo para não me sobrecarregar com o enfadonho, com o escandaloso, com o cruel. A vida revela beldades que inspiram. A vista em cima dos montes e sua quase onipresença na percepção do horizonte. A dança das ondas mostrando que os mares se rendem a alegria do baile. O caminho dos pássaros rasgando os ventos em tiros perfeitos, brincando com a gravidade, celebrando apenas a existência e nos convidando a cantar.
Deveríamos ver esses detalhes. Ver a inocência das crianças que exalam respeito e tolerância, abraços e brincadeiras, crescimento e aprendizado. Precisamos voltar à arte de conquistar corações: corações amigos, enamorados, apaixonados, sinceros. A vida pela sua riqueza sugere que alcancemos informações, visualizações, percepções. Isso é um convite ao conteúdo existencial. O conteúdo do saber, do viver. Por isso as belas canções marcam, as poesias bem orquestradas pelas letras e palavras mostram que o jogo dos versos emociona, os relacionamentos sempre nos chamam ao compromisso humano do amar-perdoar-amar, as construções dos projetos diversos na pedagogia do ensino da vida, tudo isso na complexidade do belo.
É necessário viajar, nas culturas, nas cidades, e nos pensamentos. É necessário falar de amor, na prática e no exercício do convívio cotidiano. É necessário transcender para emanar o humano e ver o divino, tão bonito e maravilhoso. É necessário viver a vida com estilo e com beleza.
Dei Gratia.
Nino Vieira

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Noite escura

             
O dia perdeu sua luz, o obscurantismo recheia a alma de ignorância e arrogância, cegando o ser ingênuo e néscio, tornando-o um esquizofrênico devoto. Seu devotismo firma-se no pão e circo espiritual, no blá, blá, blá de uma pregação, na rígida liturgia fria e em belas canções sem conteúdo.
            Até quando matarão os profetas? Sua religiosidade azedou a doçura, a elegância deu lugar aos crápulas. Os charlatões são ovacionados desde que marque a ortodoxia na fronte ou na destra dos seus adoradores. Com esta marca se julgam únicos, detentores do exclusivismo da vida eterna onde só entram, comem e bebe quem a possuem. A graça com vocês perdeu a graça. Resta apenas a exclusividade, a intolerância e a indiferença, mas a maior delas é a indiferença.
            Onde estão os errantes pelos quais o mundo não é digno? Sua fé imutável maculou a caridade, a solidariedade deu lugar ao egoísmo da iminente salvação. Os doutos da santa-fé rezaram a cartilha do literalismo bíblico para abençoar o vácuo das mentes e o vazio dos corações. A paixão acabou e em seu lugar ficou o frenesi seguido de alvoroço, acompanhado de ativismo mecânico.
             Deus meu, Deus meu, porque nos desamparaste? A longa noite revela o proselitismo das igrejas. Templos caiados com modernas vaidades, mas que por dentro estão cheio de ossos de mortos, e de toda a imundícia. O eclesiástico abraçou o paganismo e a macumbaria criando um culto do faz de conta que oprime e reprime chamado também de espetáculo, show ou pare de sofrer, como se o culto fosse um amuleto divino. Algo semelhante foi visto no período medieval.
            Nos últimos dias, por acaso, achareis fé na terra? Essa fé que mascara a ética e se concentra em balelas especulativas indica que o interesse não está no testemunho, mas sim na letra infantilizadora. Essa igreja que encobre o amor prático e genuíno pelo amor fantasioso e controlador só demonstra que suas razões firmam-se na manipulação do crente e no comodismo de suas atitudes. Esse crente desvirtua as boas novas transformando-a má velha que teima no seu legalismo, sectarismo e dogmatismo. A fé deixou de ser fé para ser crença, o conteúdo passou a ser números, a humildade cristã em exaltação de placas eclesiais.
            Até quando viveremos esta noite escura? Tornei-me um marginal da fé quando pus lentes que me ajudaram a ver o que minha cegueira não contemplara - a graça. Marginalizei-me por que certo judeu marginalizado da periférica Nazaré me ensinou a viver uma vida a margem disso que chamam movimento evangélico. Uma vez rompi com o romanismo agora rompo com o movimento evangélico, e o que me resta no cristianismo? Apenas ser cristão. Muitos anos passaram-se, percebo que ainda há muito que aprender. A caminhada parece estar mais difícil, será que minha “Jerusalém” se aproxima?
            Anseio pelo nascer do dia. Desejo que a via dolorosa se torne em novo nascimento (nova fé, nova igreja, nova atitude) como ensinado por Jesus ou em ressurreição (refazer a fé, refazer a igreja, refazer a atitude) como refeito a vida na carne de Jesus que venceu a morte, ou seja, em qualquer delas a novidade de vida. Que o amor seja a única coisa absoluta na revelação e que o resto seja relativo. Que Deus seja supremo nos corações maduros das pessoas, que Cristo seja presente nos gestos ativos e que o seu Espírito seja formador da comunhão universal humana.
            Noite escura ou dia utópico? Que meu trabalho contribua para que o utópico ganhe a dimensão da realidade, mesmo que a realidade mate toda utopia. Dei Gratia.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Vida Boa. De Victor e Leo


Moro num lugar
Numa casinha inocente do sertão
De fogo baixo aceso no fogão, fogão à lenha ai ai
Tenho tudo aqui
Umas vaquinha leiteira, um burro bão
Uma baixada ribeira, um violão e umas galinha ai ai
Tenho no quintal uns pé de fruta e de flor
E no meu peito por amor, plantei alguém(plantei
Alguém)
Refrão
Que vida boa ô ô ô
Que vida boa
Sapo caiu na lagoa, sou eu no caminho do meu sertão
Vez e outra vou
Na venda do vilarejo pra comprar
Sal grosso, cravo e outras coisa que fartá, marvada
Pinga ai ia
Pego o meu burrão
Faço na estrada a poeira levantar
Qualquer tristeza que for não vai passar do mata-burro
Ai ia
Galopando vou
Depois da curva tem alguém
Que chamo sempre de meu bem, a me esperar (a me esperar)

Música muito boa. Isso é viver a vida, interagir com a criação e teologizar no dia-a-dia. Dei Gratia

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sem sabor

A aberração de uma teologia fechada

Continuamente, exaustivamente divulgada

Para levedar a massa ignara

Na formatação de mentes infantilizadas.


Do ser, retira-se o ser; para ser,

Um fantoche das artimanhas celestiais

No teatrinho da manipulação humana

Orquestrado por seres espirituais.


Mãos encaliçadas por tanto apresentar

O espetáculo da fé, que arrebanha multidões

Em rituais entorpecentes, cheios de magias

Que favorecem “fiéis”, por poder pagar


Propaguem o incolor e o inodoro “Baratelho”

O não-sei-o-quê como se fosse evangelho

Do barato cristo genérico, pseudo-evangelho

Do Maria vai com as outras, insípido “Baratelho”.


Dei Gratia,

Nino Vieira

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Carta ao Pr. Ricarto Gondim

Prezados Pr. Ricardo e Pra. Gerusa.

Quando o sonho chamado Igreja Betesda nasceu para a vida no ano de 1981, talvez seus primeiros idealizadores não se dessem conta de quão sacrificante, estafante, e mesmo assim, tão gratificante seria o caminho pelo qual homens e mulheres, que optassem pelo mesmo, teriam que percorrer.
Em meio a forte desconfiança e acusações absurdas, vindas à maioria das vezes daqueles mesmos que pregavam o amor em seus púlpitos, logramos êxito em continuarmos vivos, levando a palavra de Deus e Seu evangelho da forma como acreditamos ser legítima. Sempre lutando para nos manter coerentes à realidade e contra as injustiças praticadas por interesses eclesiásticos egoístas.
Como é duro lutar contra quem deveria ter mais escrúpulos do que discursos inquisitórios. Compartilhamos essas dores, Ricardo e Gerusa, elas fazem parte de todos aqueles que um dia tiveram seus olhos abertos para o sonho do qual vocês foram dos primeiros a acreditar. Lutamos as mesmas lutas, somos afligidos pelo mesmo mal, embora em amplitudes e efeitos diferentes. Para exemplificar tal fato basta ver as inúmeras ofensas que cada um de nós, homens e mulheres da Betesda, sofremos por não nos intimidarmos a ordem vigente. Mesmo assim não estamos dispostos a abandonar este sonho. Pelo contrário, ainda mais fortes prosseguiremos.
Contudo, para isso temos que deixar claro que em meio a tão corriqueiras demonstrações de afronta e perfídias, congregamo-nos para declarar publicamente apoio incondicional a sua pessoa Ricardo, e contra o linchamento moral o qual tem sofrido. Confiamos na sua índole, provada ao longo dos anos de incansável serviço para com a Igreja Betesda. Confirmamos nosso desejo de estreitar mais ainda nossos laços. Laços estes visíveis durante nosso último encontro, onde palestras e conversas amigas nos provaram o quanto temos em comum, e o quanto ainda podemos caminhar como verdadeiros irmãos. Por favor, não nos tenha entre aqueles que se enchem de deslealdade, buscando em meio a conversas fraternais palavras para acusações desvirtuadas e cheias de dolo. Antes, logre encontrar em sua memória os sorrisos sinceros e as palavras de admiração, carinho e respeito das quais você é merecedor.
Como membros deste sonho não abrimos mão de sua mentoria e do seu pastoreio. Pensar em Betesda é pensar em Ricardo Gondim, assim como em muitas outras pessoas que fazem parte de nossa história e não podem ser alijadas destas páginas escritas com o suor, a luta, os sonhos e a abnegação de muitos. As polêmicas são parte da história de pessoas que se propõe a trilhar o caminho da justiça, assim também como o caminho estreito do amor e da misericórdia não comporta uma multidão. Porém, ao invés da comodidade que muitos querem, escolhemos o caminho que Deus tem proposto aqueles que têm coragem a responder ao Seu chamado para serem profetas nos nossos dias atuais, como aqueles que Deus levantou outrora. É uma honra servir á Deus com tais pessoas.
Desta forma, queremos contar sempre com sua presença e afeto, sabendo que o povo da Igreja Betesda do Ceará lhe respeita e é grato pelos muitos anos de serviço a Deus e as nossas próprias vidas.

Assinam essa carta
Álvaro Jansen Viana da Silva (Betesda Aldeota)
Anderson Garcêz de Lima (Betesda José Walter)
Antônio Marcelo Lima Oliveira Filho (Betesda Jardim Castelão)
Célia Aderaldo Mendonça (Betesda Barra do Ceará)
Francisco Chagas da Silva (Betesda Conjunto Ceará)
Francisco Eudes Venâncio Cardoso (Betesda Russas)
Francisco de Assis Pereira Fernandes (Betesda Cascavel)
Francisco Flávio de Castro Leite (Betesda Sul)
Francisco Finésio Ferreira de Azevedo (Betesda Cidade 2000)
Francisco José Morais de Souza (Betesda Messejana)
George Sousa Cavalcante (Betesda Antônio Bezerra)
Gilmar Pacífico de Sousa (Betesda Parangaba)
Izaías Alves do Nascimento (Betesda Serviluz)
James Cley Lima da Silva (Betesda Juazeiro do Norte)
José de Souza (Betesda Horizonte)
José Maria Mendes Uchôa (Betesda Serrinha)
Leonardo Farias Cruz (Betesda Vila das Flores)
Marcelo Horácio Pedroso (Betesda Granja Portugal)
Márcio Oliveira Cardoso (Betesda Montese)
Mardes Silva (Presidente Betesda Ceará)
Maria Leny Brito da Silva (Betesda Jaguaribe)
Maria Mônica Santana (Betesda Nova Metrópole)
Nino Rodrigues Vieira (Betesda Autran Nunes)
Otacílio de Pontes Lima (Betesda Joaquim Távora)
Paulo de Moraes Filho (Betesda Itapery)
Paulo César da Silva (Betesda Sítio São João)
Paulo Maurício Gonçalves Barbosa (Betesda Messejana)
Roberto Rinaldo Campos Moura (Betesda Crateús)
Rodolfo de Almeida Eloy (Betesda João Pessoa)
Ronaldo Pereira da Silva (Betesda Papicu)
Salete M. Lima (Betesda Joaquim Távora)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Calem-se

Calem-se os legitimadores da alienação
Os profetas anunciadores da infantilização
Vozes que destroem graça e beleza
Trancando Deus em masmorra e fortaleza.

Calem-se os devoradores da liberdade
Hipócritas que negam responsabilidade
Reduzem humanos em fantoches
Da brincadeira celestial e seu deboche.

Calem-se os apregoadores da avareza
Gentis ovelhas da falsa riqueza
Detentores da manipulação da boa fé
Lobos consumidores do sustento de inocentes.

Calem-se os carcereiros legalistas
Que sustentam o evangelho do não pode
Suas máscaras piedosas negam o poder
Do Altíssimo, libertador e único que pode.

Calem-se os divinizadores de satanás
A mentira de seu demonismo onipotente
Firma-se em uma fé impotente
Ao ocupar suas mentes com temas hostis e banais.

Calem-se pseudocrístãos eternamente infantis
Que conscientemente preferem não ser
Autênticos no que crê, porque julgam mal
A mensagem que era para ser como um “sal”.

Calem-se os tolos religiosos
Ignorantes, arrogantes e intolerantes,
Promovedores da morte precoce de Deus
Pelo paradoxo de um testemunho obscuro.

Cale-se este autor de ingenuidade realista
Sua estupidez de continuar tentando
Ir avante à reconciliação coração-mente
Ousando compreender o transcendental e o imanente.

Dei Gratia.